O barulho metálico das cegonhas saindo da fábrica da BYD em Camaçari soa como o início de uma nova era. É o som de uma transição energética que começa a ganhar corpo em um país acostumado ao cheiro de gasolina. Os 363 carros elétricos embarcados em outubro talvez pareçam pouco diante do tamanho do Brasil, mas cada um deles carrega um símbolo: o começo de uma indústria que decide, finalmente, produzir eletricidade sobre rodas.
A BYD não chegou devagar. Montou sua base em um espaço simbólico, o mesmo que abrigou a Ford por décadas. Agora, a estrutura da antiga gigante americana abriga motores silenciosos, baterias de lítio e algoritmos de gerenciamento energético. A inversão é quase poética: onde antes se fazia ruído e fumaça, agora há eficiência e bytes.
O primeiro lote, enviado principalmente para o Centro-Oeste e o Nordeste, revela uma ambição geográfica. A BYD não quer apenas dominar o eixo Rio-São Paulo. Quer levar carros elétricos para onde os cabos de recarga ainda são novidade, para estradas onde o silêncio de um motor elétrico pode parecer ficção científica. É uma expansão que desafia o mapa mental do consumidor brasileiro e provoca as concorrentes a repensarem seus planos.
O modelo que lidera essa ofensiva é o Dolphin Mini. Pequeno, leve e ágil, ele traduz a filosofia de democratizar o carro elétrico. São 75 cavalos e 13,8 kgfm de torque entregues de forma instantânea, uma sensação que vicia. Com sua bateria Blade de 38,8 kWh, roda quase 300 km sem pedir tomada. Mais que um carro urbano, é um experimento sobre até onde o brasileiro está disposto a confiar em uma nova matriz de mobilidade.
Enquanto isso, dentro da fábrica, os engenheiros preparam a chegada do King, um sedã híbrido que deve entrar na linha de montagem ainda neste mês. A produção local é o primeiro passo para um movimento maior: nacionalizar componentes, criar empregos e transformar a Bahia em polo de tecnologia automotiva. A promessa é ousada, mas o cronograma indica que não é apenas discurso.
No fundo, o que acontece em Camaçari é um microcosmo de algo maior. É sobre o Brasil tentando sair do atraso energético, sobre uma nova geração de consumidores que se importa mais com recarga do que com ronco de motor. O que a BYD iniciou em outubro é mais do que a entrega de 363 carros, é o prenúncio de uma mudança de cultura. Uma transição silenciosa, mas impossível de ignorar.
Fonte: BYD.