Eurotúnel: o maior túnel submarino do mundo foi construído assim

Chamado de Eurotúnel, ele é uma gigantesca obra de engenharia que interliga a Inglaterra à França.

Como existe uma barreira geográfica entre os dois países, o Canal da Mancha, foi preciso que o túnel fosse construído a 40 metros abaixo deste canal. Com um trecho submerso de 37,9 km, o túnel tem a parte submarina mais longa do que a de qualquer outro túnel do mundo.

História

A construção do Eurotúnel foi pensada por engenheiros no início do século 18, após diversos planos para abarcar a fenda de 33 km do Canal da Mancha, pois as costas rochosas e o clima tempestuoso do canal tornaram seu cruzamento uma probabilidade perigosa.

Ideias como ilhas artificiais ligadas por pontes e tubos submersos suspensos por plataformas flutuantes foram propostas na época, mas o que mais chamou a atenção dos europeus foi o projeto de uma passagem submersa duas vezes mais longa que qualquer túnel existente. A invenção da tuneladora e a descoberta de uma camada estável de calcário no fundo do mar tornou esse incrível túnel mais viável.

Porém, os britânicos ficaram com medo de uma invasão francesa e por isso paralisaram os planos para o túnel. Mas não foi só isso, preocupações com a economia também surgiram. Entretanto, 100 anos após a escavação inicial, os dois países chegaram a um acordo, e a construção do túnel prosseguiria com financiamento privado.

A construção

O projeto do túnel mais longo do mundo é constituído em três túneis separados: um para trens com destino à França, outro com destino à Inglaterra e um de serviço entre os dois. Juntamente com tubos de cruzamento, passagens de emergência e dutos de ar, somava-se o aproximado de 200 km de túneis. Em 1988, os operários começaram a escavar dos dois lados, com o objetivo de se encontrarem no meio.

Alguns problemas começaram a surgir, as primeiras medições da costa francesa revelaram falhas tectônicas no local. Pequenas rachaduras permitiam a infiltração de água nas rochas, então, os engenheiros tiveram que criar tuneladoras à prova d’água.

Já os ingleses previram condições mais secas e avançaram com brocas comuns. Mas houve infiltração da água nas fendas não detectadas, e para continuar a perfura o calcário úmido, os britânicos tiveram que usar argamassa para selar as rachaduras que seriam criadas pelo sulco da broca e até mesmo trabalhar à frente da broca principal para reforçar o calcário que seria perfurado.

Vencidos os obstáculos, as duas equipes começaram a perfurar em velocidade máxima. Broqueadoras de até 1,3 mil toneladas perfuravam quase 3,5 metros por hora. Ao cavar, instalavam anéis de isolamento para estabilizar o túnel atrás deles, abrindo caminho para vagões de apoio após a passagem de cada máquina.

Mesmo em velocidade máxima, o trabalho tinha que prosseguir com cuidado. A camada de calcário seguia um caminho sinuoso entre rocha instável e lama, com mais de 100 perfurações feitas previamente por outros medidores. Além disso, as duas equipes tinham que checar as coordenadas constantemente, para que pudessem se encontrar a dois centímetros uma da outra. Para manter essa trajetória delicada, os perfuradores utilizaram sistemas de posicionamento por satélite, bem como paleontólogos, que usavam fósseis escavados para confirmar que estavam na profundidade correta.

A escavação do túnel demorou 7 anos e empregou cerca de 13 mil pessoas, englobando 15 empresas e 5 bancos de ambos os países. Quase 4 milhões de metros cúbicos de cal foram escavados só do lado inglês.

Os dois lados finalmente se encontraram em 1990, o túnel foi oficialmente inaugurado em 6 de maio de 1994 pela rainha britânica Elisabeth II e pelo presidente francês François Mitterrand. O atendimento completo ao público iniciou-se 16 meses depois, com trens de passageiros e linhas para carros e caminhões.

Hoje, o túnel do canal atende cerca de 20 milhões de passageiros por ano, transportando-os pelo canal em apenas 35 minutos.