Você já parou para pensar quantas boas ideias já teve enquanto tomava banho? Pode até parecer engraçado, mas com certeza todos já passaram pela experiência de ter uma ideia genial, ou de pensar em uma solução para um problema enquanto estava no banho. Mas a pergunta que surge é: por que temos boas ideias quando estamos debaixo do chuveiro?
Certamente você teve aquele insight maravilhoso estando todo molhado, já reparou que isso também acontece quando estamos executando outras tarefas que não necessitam de muita atenção, como arrumar o quarto ou lavar louça.
Para compreender melhor o porquê de nossa criatividade aumentar durante o banho, é bom sabermos que essa história já é bem antiga e veio do famoso matemático Arquimedes. Ele tinha recebido uma tarefa difícil de um rei: descobrir se a quantidade de ouro contida em sua coroa era exatamente igual à que foi dada ao artesão. Sem ideia de como ele faria isso, Arquimedes teria entrado em sua banheira num dia comum, e momentos depois percebeu que o volume da água que subia era igual ao volume de seu corpo. Portanto, para descobrir o volume (e, consequentemente, a densidade) da coroa, bastava repetir o processo e jogá-la na água. Problema resolvido.
Milhares de anos depois, um grupo de pesquisadores resolveu entrar mais a fundo para entender como funciona esse “efeito chuveiro” e se realmente ao entrar no banho temos ideias melhores. Neste estudo, publicado na revista Psychology of Aesthetics, Creativity, and the Arts, da Associação Americana de Psicologia, eles explicam o que o efeito significa para nossa mente, o que provavelmente o ativa, e como podemos usá-lo a nosso favor.
Para comprovar a tese deste efeito, muitos estudos foram realizados para entender como o cérebro responde de acordo com as distrações apresentadas aos participantes e se realmente haviam ideias mais “geniais” com isso. No entanto, estudos iniciais se baseavam nas distrações, quando na verdade, somos mais propensos a ter ideias melhores quando nossa mente está divagando, o que é bem diferente de estar distraído.
Outro problema com alguns desses estudos são as tarefas que os participantes realizaram: em um deles, por exemplo, as pessoas eram expostas a uma sequência de números, e tinham que apertar um botão toda vez que o número 3 aparecia. Segundo a nova pesquisa recente, essas atividades até podem estimular a mente da maneira correta, mas não condizem bem com o mundo real, ou seja, não simulam de fato tarefas comuns do dia a dia.
O professor assistente Zac Irving e a professora de psicologia da Universidade de Minnesota Caitlin Mills decidiram testar a teoria. Irving e Mills solicitaram aos participantes do estudo da Universidade de New Hampshire que pensassem em usos alternativos para um tijolo ou um clipe de papel.
Os participantes foram divididos em dois grupos para assistir a diferentes vídeos de três minutos que serviriam como modelos de incubação para as novas ideias criativas dos participantes. Um grupo assistiu a um vídeo considerado “chato”, enquanto outro assistiu a um “moderadamente envolvente” – uma cena do filme “When Harry Met Sally”. O vídeo menos envolvente, de dois homens dobrando roupas, foi usado para aproximar o teste em laboratório da vida real, já que é comum as pessoas assistirem a vídeos envolventes ou chatos. Após os vídeos, os participantes foram solicitados a voltar rapidamente ao processo de listar usos alternativos para o tijolo ou clipe de papel que foram apresentados anteriormente.
A descoberta dos pesquisadores foi de que a divagação mental ajuda, mas apenas às vezes. Especificamente, a divagação mental levou a um maior número de ideias, mas apenas quando os participantes estavam assistindo ao vídeo “envolvente” em vez do “chato”. Durante o vídeo envolvente, em outras palavras, houve uma correlação positiva entre a quantidade de divagações mentais e as ideias criativas geradas. A divagação mental tornou os participantes mais criativos.
Sendo assim, não há muita certeza de que realmente o banho seja um grande fator na geração de novas ideias e soluções incríveis. No entanto, pode tentar por si mesmo comprovar essa teoria bem interessante, e quem sabe, terá grandes ideias.