“Starfield”, dos criadores de clássicos como a série “Fallout” e “The Elder Scrolls: Skyrim”, é o mais recente jogo a mostrar que não se pode confiar em promessas exageradas

Lançado às 21h desta terça-feira (5) para o público em geral no Xbox Series X/S e computadores (os compradores da versão premium tiveram acesso desde sexta-feira, 1º), este RPG espacial agora se junta à lista de vítimas das expectativas inatingíveis que elas mesmas geraram, como "No Man's Sky" em 2016 e "Cyberpunk 2077" em 2020.
Publicado em Games dia 5/09/2023 por Alan Corrêa

Starfield foi lançado às 21h desta terça-feira (5) para o público em geral no Xbox Series X/S e computadores, este RPG espacial agora se junta à lista de vítimas das expectativas inatingíveis que elas mesmas geraram, como “No Man’s Sky” em 2016 e “Cyberpunk 2077” em 2020.

Sendo um dos jogos mais esperados dos últimos anos, “Starfield” inevitavelmente decepciona, embora esteja longe de ser considerado ruim. Como um jogo de exploração espacial em que os jogadores podem viver diversas aventuras com relativa liberdade, ele até se destaca como muito bom. Existem amplas oportunidades e opções para os jogadores escolherem seus tipos preferidos de desafios, desde confrontos com piratas e batalhas espaciais até a construção de bases de pesquisa e o registro de novas espécies animais, quase como se cada jogador encontrasse nele um subgênero diferente.

No entanto, a presença de centenas de missões repetitivas evidencia que quantidade nem sempre se traduz em qualidade, e as viagens rápidas e telas de carregamento intermináveis fazem com que este universo pareça menor do que os mundos grandiosos dos sucessos anteriores da Bethesda, a editora do jogo adquirida pela Microsoft em 2021.

Muito a fazer, muito parecido

Sendo um dos jogos mais esperados dos últimos anos, "Starfield" inevitavelmente decepciona, embora esteja longe de ser considerado ruim.
Sendo um dos jogos mais esperados dos últimos anos, “Starfield” inevitavelmente decepciona, embora esteja longe de ser considerado ruim.

Em “Starfield”, depois de criar seu personagem, o jogador é convocado por um grupo de exploradores espaciais para encontrar artefatos misteriosos espalhados pela galáxia. Entre um planeta e outro, o protagonista pode escolher entre diferentes facções rivais, viver a vida como um mercenário ou um soldado, ou até se dedicar mais a pesquisa e diplomacia. A campanha, no fim, serve mais como um guia/tutorial para dar ao público o primeiro contato com a variedade de experiências disponíveis.

Aqueles com espírito mais rebelde ou aventureiro, no entanto, logo tomarão desvios – e se verão inevitavelmente perdidos entre mecânicas que nunca sequer foram mencionadas.

Em um primeiro contato, pode ser avassalador. Especialmente se, ao andar em novos povoados, a lista de objetivos não para de crescer só de ouvir conversas aleatórias de personagens desconhecidos. Tantas missões dão a impressão de atividades sem fim. Infelizmente, em sua maioria elas são repetitivas e sem profundidade. Em uma delas, o protagonista deve se tornar o secretário de um chefe corrupto para ajudar mineradores explorados em Marte. Para conseguir o trabalho, no entanto, deve subir em sua nave, ir até um satélite em órbita, deixar sua nave, entrar no satélite, encontrar um computador, preencher um formulário que não parece ter muita importância, retornar à nave e então voltar a falar com o minerador marciano com quem falava imediatamente antes de todo esse processo. Não há internet no universo de “Starfield”. Mas piora.

Minha nave por um carro, uma moto, qualquer coisa

Como um jogo de exploração espacial em que os jogadores podem viver diversas aventuras com relativa liberdade, ele até se destaca como muito bom.
Como um jogo de exploração espacial em que os jogadores podem viver diversas aventuras com relativa liberdade, ele até se destaca como muito bom.

Não há também carros ou sequer a possibilidade de voar sua nave na atmosfera de planetas. Em “Starfield”, para dominar o cosmos, aparentemente a humanidade precisou esquecer a existência do automóvel ou das lições de Santos Dumont. Tudo isso quer dizer que a liberdade prometida pelos desenvolvedores antes do lançamento na verdade está presa intimamente a viagens rápidas entre planetas, já que os jogadores não podem pilotar livremente de um destino a outro, ou passeios longos (e lentos) a pé do local de pouso até a missão ativa naquele momento. Para piorar, poucos são os prédios ou até mesmo andares que podem ser acessados sem uma tela de carregamento. Elas não demoram, é verdade, mas tanta pausa entre ações normalmente contínuas fazem com que este universo seja menor que a província de Skyrim, do sexto “The Elder Scrolls” – e olha que dava para montar um cavalo por lá.

Espaço para crescer

“Starfield” não é só problemas. Superados os defeitos esperados em games da Bethesda, como animações robóticas ou por vezes quebradas, há muito potencial na imensidão do espaço. O combate com a perspectiva em primeira pessoa é satisfatório, por mais que não seja o foco do game, e oferece uma variedade interessante de armas e recursos. Melhor que isso, em muitos casos pode nem ser necessário o confronto direto. Não apenas por ataques furtivos, mas também com o bom e velho diálogo. O acúmulo de atividades iniciais e a falta de explicações faz do começo de “Starfield” ainda pior que a lentidão de “Skyrim” ou a confusão de “Fallout 3” – uma mistura problemática de ambos. Com o tempo, assim como em seus antecessores, o jogo evolui junto das habilidades do protagonista. O combate espacial se torna mais complexo, as diferentes sociedades se aprofundam. A história continua rasa e previsível, mas entrega mais diversão. Resta ao jogador saber se vale dedicar 10, 20, 30 horas até chegar a este ponto. Isso sem falar nos R$ 350 investidos por quem não tem Game Pass (o jogo é parte do catálogo da plataforma por assinatura da Microsoft). Assim como “No Man’s Sky” e “Cyberpunk 2077” antes dele, “Starfield” sofre com as próprias promessas. Ao contrário desses exemplos, o jogo da Bethesda chega com bem menos problemas – e muito mais potencial. Para os menos ansiosos, não é má ideia esperar um pouco. Com o modelo atual da indústria, games nunca são lançados 100% prontos e têm muito a crescer com o tempo. “Starfield”, mais do que qualquer outro, tem muito espaço para isso.

*Com informações do Fusne.